O portal Matriz On Line pediu aos frequentadores da Brazooka que mandassem perguntas para mim. Eis o resultado:
P:Qual o pensamento que o influenciou de forma pioneira ao resgate fantástico da MPB exacerbando a nacionalidade popular?
R: O meu.
P:Qual o segredo pra Brazooka continuar fazendo sucesso há tanto tempo?
R: Estar sempre procurando adicionar coisas novas ao repertório e fugindo da fórmula fácil dos ritmos da moda. E também a liberdade que a direção da Casa da Matriz sempre me deu pra produzir a festa, desde a inauguração. Com isso pude apostar na Brazooka a longo prazo. Há 6 anos, ninguém imaginava que uma festa 100% brasileira pudesse dar certo. E ainda com a história das horas temáticas, a minha recusa em tocar funk, etc. Em muitas boates, se alguém vai pedir música e o DJ diz que não toca, isso pode lhe custar o emprego. Na Matriz não tem isso.
P:Janot, me amarro nas horas temáticas da Brazooka. Já teve alguma hora temática que tenha sido um fracasso absoluto? O que você faz nessa hora?
R: Teve um dia que a casa não estava muito cheia, por isso na hora temática a pista esvaziou. Acabei dando uma abreviada nela. Como ninguém reclamou...mas não lembro qual era.
P:Numa Brazooka em que lhe fosse sugerida a hora temática: "As canções brasileiras mais odiadas por mim” o que vc tocaria ?
R: “Te amo espanhola”, “Tô nem aí”, “Poeira”, “Tapinha Não Dói”, “Se Ela Dança, Eu Danço” e mais um monte.
P:Já aconteceu de alguém pedir para você tocar uma música que não tivesse nada a ver com o estilo da noite ou até mesmo do lugar ( Brazooka/Cabaret Kalesa )?
R: Costuma acontecer, especialmente quando tem gente que caiu de pára-quedas ali por causa de aniversários. Perguntam se não toca funk. Tem outros que não percebem que é só música nacional e pedem pra tocar algo estrangeiro. Uma vez pediram “Chiclete com Banana”, eu toquei a música do Jackson do Pandeiro, cantada pelo Gil. Cinco minutos depois a pessoa volta e pede de novo. Foi aí que eu descobri que ela estava se referindo à banda de axé, e não à música “Chiclete com Banana”...
P:Muita gente deve ir na sua festa pra ouvir os "grandes hits do DJ Janot", as músicas que estão nos seus discos (aliás muito bons!). Mas também deve ter gente que quer ouvir coisa nova. Como você faz pra agradar a todos?
R: Procuro variar pelo menos 20 a 30% do repertório toda a noite. O grande segredo do bom DJ é encontrar esse equilíbrio a ponto de manter a pista sempre cheia.
P:Acredito que o trabalho de DJ tenha muito de sensibilidade, para entender o público e a música que ele quer ouvir. É assim que rola mesmo? E quando você está cansado ou com problemas pessoais, como funciona? Dá para ir no piloto-automático?
R: Sim, a cada festa o público muda, mesmo que sutilmente. O DJ precisa estar atento a isso, para sentir o que vai fazer o público daquela noite dançar. Tem vezes (é raro) que estou cansado ou com problemas pessoais, mas nessas horas costumo usar as festas como válvula de escape, justamente pra tentar esquecer o cansaço ou a tristeza. Se deixar no piloto automático as pessoas percebem, pode ter certeza.
P:Nem sempre estamos dispostos para o trabalho. No seu caso, seja pela festa em si, pelo local ou ainda pelas pessoas que estão ouvindo seu som. Já aconteceu de você sair no meio ou até dormir na cabine?
R: O que me faz durar 12 anos nessa profissão e ter conseguido respeito no mercado é antes de tudo o meu profissionalismo. Nunca abandonei uma festa no meio da noite, deixando o som à deriva. Já aconteceu de ter que sair mais cedo por um ou outro motivo, mas sempre deixei alguém no meu lugar. E certa vez, na Melt, enquanto rolava o som da banda de abertura da festa sentei no chão da cabine e dei uma cochilada.
P:Qual foi a maior loucura a que você já se rendeu durante uma festa (a trabalho)?
R: Ah, isso só vou contar depois que me aposentar...
P:Dormir de manhã, passar a noite trabalhando. Até que ponto sua vida profissional atrapalha saídas, namoros, família? Como atingir o meio termo? Relacionamentos seus já terminaram por esta razão?
R: Atrapalha sim, especialmente por quase não poder fazer aqueles programas de sexta e sábado que todo mundo faz. Perco shows, festas, viagens. Nem toda namorada gosta ou tem pique pra me acompanhar nas festas em que estou trabalhando. Tenho que estar sempre atento para compensar isso de outras maneiras. E não abro mão de tirar algumas semanas de férias para viajar, se possível até mais de uma vez por ano.
P:Sou viciada em MPB e, como nao poderia deixar de ser, sou sua mega fã. Adoro as misturas entre os clássicos e as novidades...Sempre brinco que é um absurdo eu não saber cantar alguma música que você toque ou na Matriz ou em qualquer outro lugar...Então, onde vc acha essas novidades? A galera manda muita coisa nova pra vc ou é garimpo mesmo?
R: Legal saber que tenho uma “mega fã”! Estou sempre atento a novidades, mas nem todo os sons bacanas que escuto funcionam na pista 1, por isso tenho que ser muito criterioso. Também adoro garimpar velharias nas lojas, especialmente as virtuais. Às vezes varo as madrugadas fuçando TODO o acervo de música brasileira das Americanas.com, Submarino, etc.
P:Imagino que não dê para comprar todos os CDs com músicas boas para a pista. E a solução é apelar para a Internet e para troca de músicas com amigos e outros DJs. Você acha que essa atividade e essa postura estimulam a pirataria?
R:Não acho que a troca de músicas estimula a pirataria, é apenas resultado do avanço da tecnologia. Nem todo DJ pode gastar fortunas com CDs. No meu caso, baixo muito pouco, primeiro porque não tenho muito saco pra isso e depois porque não é tão fácil achar raridades da MPB nesses lugares. Se souberem, me avisem!
P:A noite é sempre movida a bebida e drogas. Como você lida com essa combinação? Dá para passar a noite inteira a seco ou é preciso se envenenar um pouco?
R: Umas cervejinhas são fundamentais como combustível. Pra alívio da casa, não bebo destilados. Outras substâncias podem deixar o raciocínio muito lento na hora de escolher as músicas e operar o equipamento. Melhor evitar.
P: Janot, como você lida com o assédio feminino nas festas? Você entra no jogo ou tende a se incomodar com as investidas "durante o expediente"?
R: Hehehehehe. Quando estou solteiro, faz parte do jogo. O problema do “durante o expediente” é que cada música dura em média 3 minutos, né? Aí fica difícil dar atenção. Às vezes fico com medo de passar uma imagem antipática, mas também tem muita menina sem noção, que não arreda pé da porta da cabine mesmo vendo que eu estou ocupado com os CDs. E tem também aquelas bêbadas pegajosas...essas são as piores.
P:Você já abriu o show dos Rolling Stones, já tocou antes do Skank, em eventos culturais e em festas particulares significativas. O que acha que falta na sua trajetória? Onde e com quem gostaria de tocar?
R: Acho que falta tocar mais no exterior. Adoro viajar, e me entusiasma a possibilidade de mostrar pros gringos que música brasileira boa pra pista não é só remix do Patife ou do Marky.
P:Além de DJ, você toca algum instrumento musical? Como começou sua relação com a música?
R: Não toco. Nunca tive disciplina pra tentar aprender. Minha relação com a música vem desde pequeno, meus pais tinham centenas de vinis de MPB de qualidade em casa, foi desde então que fui fazendo minha cabeça.
P: Hoje em dia, muitos DJs e músicos já usam músicas brasileiras com drum n' bass, remixes, samplers,... adoidado. Ou seja, utilizando mesmos artifícios que você utiliza para as suas festas. Você tem medo/receio de que esse gênero sature assim como as Festas dos anos 80, fazendo com que caia a procura pelo seu trabalho?
R: Os DJs que só tocam MPB remixada (e muito bem, por sinal), como o Zé Pedro, é que podem ficar preocupados. No meu caso, como cerca de 80% do repertório é de versões originais, fica mais difícil cansar, pois os estilos são muito variados.
P:Você voltou a escrever em jornal fazendo críticas de cinema pro Globo. Mas você tem saudades dos tempos de redação?
R: Do clima de redação, trabalhando com uma galera, sim. Mas não tenho nenhuma saudade da escravidão, plantões de fim de semana, etc. E muito menos do salário...
P: Outro dia estava em uma festa (Particular), quando ouvi um versão de “Eu Bebo Sim” misturada a batida do funk. Diante disso qual a possibilidade que você vislumbra de termos a Musica Popular Brasileira banalizada ao som do funk?
R: Já banalizaram a MPB com uma onda de remixes ridículos que só acrescentam uma batida dance, é natural que com o modismo do funk isso venha a acontecer. Mas só toca essas bobagens o DJ inseguro, aquele que acha que o público não vai curtir “Eu Bebo Sim” no original.
P: Das musicas q vc toca qual a que voce considera a cara do Rio?
R: No momento, “Lapa”, do Marcelo D2.
(publicado em 29.11.2006)