Ousadia: a receita pra fugir do lugar-comum

Sua trajetória começou meio que por acaso, quando, em 1994, resolveu fechar a boate Public & Co, no Rio, para comemorar o aniversário brincando de DJ entre amigos, a maioria jornalistas. O bom gosto de seu repertório surpreendeu os programadores da casa, que o convidaram para comandar uma noite mensal no lugar.

No ano seguinte, um empresário o procurou com uma idéia meio maluca: iria transformar um tradicional inferninho da Praça Mauá, freqüentado por marinheiros e prostitutas, em boate para modernos e descolados, com direito a striptease. Queria um DJ que tivesse um som eclético e fugisse do óbvio. E lá foi o DJ Janot para o Cabaret Kalesa. Nunca poderia imaginar que o reconhecimento ao seu talento viria tão rápido: com som e ambiente diferentes do lugar-comum das boates cariocas, em menos de um mês a casa se tornaria o maior sucesso da noite local. Ficou no Kalesa por três anos, até fechar.

Janot nunca se deixou acomodar pelo sucesso. Sempre trilhou o caminho da experimentação, mas buscando se aproximar do público. No Kalesa, testou pela primeira vez uma fórmula que o consagraria anos mais tarde: a noite dedicada à música brasileira. Também foi dos pioneiros a testar o potencial dos ritmos nordestinos na pista, no Kalesa e no Projeto Raízes (no saudoso Ballroom), muito antes de o forró virar moda na noite carioca.

Mas foi na Casa da Matriz, desde sua inauguração, em 2000, que Janot pôde colocar em prática seu conceito de música brasileira pra dançar. Criou a festa Brazooka e gradativamente foi acostumando o público a redescobrir as raízes da MPB e a abrir os ouvidos para o som de grupos novos que não encontravam espaço nas rádios. Quando a festa se tornou 100% brasileira, resolveu ousar mais um pouquinho e passou a programar, a cada noite, horas temáticas de determinado artista. Assim, apresenta às novas gerações, de forma abrangente e não apenas restrita aos hits, a qualidade do repertório de Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Elis Regina e outros. Sem deixar a pista esvaziar. Com este trabalho de formação de platéias, Janot conseguiu fazer da carreira de DJ uma extensão da atividade jornalística.